A redescoberta do Brasil na visão de Capistrano de Abreu


De cientificista, mais alinhado com a perspectiva positivista europeia no processo evolutivo natural da ciência e sociedade, passando para uma perspectiva historicista, abordando os fenômenos sociais e as culturas humanas, onde nessa transição, abre-se uma nova percepção, que tange a existência de um Brasil desconjuntado das leis para a compreensão dos diversos fenômenos políticos, sociais e culturais. 
Pioneiro em sua interpretação, o historiador Capistrano de Abreu (1853 – 1927), realiza uma ruptura, redescobrindo o Brasil no momento de transição do Império Colonial monarca para republicano, onde a partir de então a História não é mais contada do ponto de vista dos europeus e sim do ponto de vista brasileiro.


Criado em um ambiente católico, escravista e patriarcal de sistema rural e contexto geográfico do sertão em que ele vivia, Capistrano reconhece a importância de seu povo, as suas lutas, cultura, costumes, assim como o clima ambiental e principalmente a miscigenação entre os índios, brancos e negros caracterizando a população sertaneja. 
Ele não foca no descobrimento do Brasil e sim no redescobrimento, deixando de lado o centro político, administrativo para focar nas estruturas mais interioranas na qual reverencia o sertão brasileiro, usando tal assunto como base de estudos do que é ser brasileiro, valorizando aquilo que vem do interior para o litoral e não do litoral para o interior como é tangível na visão dos europeus, onde toda a colonização começou no litoral, na qual se constituiu as grandes cidades.
De forma empírica ele busca no interior o que é ser brasileiro, certificando que o povo raiz tem sua história e autenticidade.
Buscou relatar em seu livro como o povo alimentava-se de peixe fresco, pescado no rio, como era a cultura indígena passada para o sertanejo, a forma como comiam a mão de arremeço e como era consumida a carne de sol, a utilidade do milho podendo servir cozido, assado, em forma de pamonha ou canjica, onde havia diferença de consumo se comparado no Norte e no Sul do país.
Me espantei ao ler que o dono da casa-grande, como toda a população masculina, andava de ceroula e camisa no cotidiano, e não alinhado em seus ternos elegante como minha vida inteira até esse momento achei que fosse, assim foi com a abordagem da vida íntima da mulher, que era vista como objeto de permutas e contratos.
Salientava que não podia se ignorar a quantidade de escravos comparados aos pés de café, tendo à frente dos negócios um feitor mulato ou até mesmo negro, assim o dono se faz regedor, juiz e médico em sua propriedade, aproveitando a mão de-obra, usufruindo das trocas culturais, na qual testificava a adaptabilidade no âmbito da disseminação e diversidade cultural. 
Em suma, os “três séculos” substancia a redescoberta de um Brasil nativo de essências.
  
 FONTE: “Três séculos depois” (ABREU, 1998, p. 199-221)

by @alinesousil


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